A Ana me chamou para contar um pouquinho da minha história enquanto mestranda e pesquisadora de moda e consumo em brechós, e cá estamos nós 🙂

Bom, quando eu digo que faço mestrado e pesquiso brechós muita gente me olha com uma cara estranha, mas acho que sinceramente não tem mais como ignorar que a moda de segunda mão está crescendo a passos largos aqui no Brasil. Ao mesmo tempo, me dei conta que existem pouquíssimos trabalhos acadêmicos nessa área, a maioria bem superficial e limitado a tcc’s de graduação (não querendo desmerecer esses trabalhos mas creio que o tema merece um estudo um pouco mais aprofundado que o tempo de um tcc não permitiria). Então como sempre amei moda, acabei por focar nesse assunto para a dissertação do meu mestrado.

consumo em brechós

O tema surgiu na minha cabeça muito antes de começar o curso, bem na real foi quando decidi me casar. Sim, eu sempre morei em uma casa com um espaço relativamente grande, então meu quarto de solteira tinha um belo de um roupeiro, onde eu enfiava minhas trocentas roupas. Detalhe: mais da metade daquele arsenal todo não tinha uso, só ficava ali parado no cabide. Então, quando me casei e mudei para um apê, muito menor, tive que aprender a me contentar com UMA arara, sim amigas, foi um exercício de desapego porque metade do que eu tinha simplesmente não cabia lá.

Aí que eu caí em mim sabe? Estava guardando tantas peças legais, que tinham pouquíssimo uso, comprava sem muitas vezes pensar e boa parte desse material ficava lá estocado. Acho que antes de me mudar nem passava pela minha cabeça o quanto isso impactava o ambiente e até mesmo o mercado de moda. Pirei. Pensei comigo mesma: tenho que fazer alguma coisa pra tentar conscientizar mais gente sobre consumir moda de maneira mais sustentável.

consumo em brechós

Depois de entrar em altas crises existenciais tanto na esfera pessoal quanto profissional (queria muuito mudar de carreira), caí no mestrado. Sinceramente essa fase de mestranda está sendo SUPER intensa, é muita leitura, muito artigo científico, muita produção. Bem na real, hoje eu olho pra trás e tenho saudades da minha vida de universitária, afinal de contas era tãooo mais tranquilo. Ao mesmo tempo, sinto de verdade que estou crescendo como ser humano como nunca, afinal de contas a faculdade e a pós-graduação trabalham quase que exclusivamente com aspectos práticos. Mestrado não, mestrado é teoria, é suor, e tem dias que dá vontade de sentar e chorar (aliás eu já fiz isso, kkkk), mas ao mesmo tempo é recompensador. Recompensador no sentido que enquanto pesquisadora, eu sinto de verdade que estou fazendo minha parte a favor da conscientização do consumo de moda.

Falta mais ou menos um ano para minha formatura, e minha pesquisa ainda está em fase inicial, mas sinceramente acho que posso dizer que as notícias são boas por um lado e ruins por outro. Então a notícia boa é que: por um lado o consumo desenfreado de moda está sim sendo repensado, mas como nem tudo é perfeito, o mercado do consumo sustentável ainda parece estar engatinhando aqui no Brasil.

Enfim, sei que tenho muito caminho para percorrer ainda, que um trabalho de dissertação não é nada no mar que é o mundo do consumo da moda, mas estamos aqui firmes e fortes, para quem sabe um dia ajudar a repensar os hábitos de consumo tão arraigados na nossa cultura.

E se alguém vier me perguntar: Raquel, qual tua opinião sobre fazer mestrado? Eu vou responder: olha, se tu quer muuuito a vida acadêmica e está preparada para ralar muiito, vai firme. Porque é trabalhoso, mas um dia tudo que se planta, também se colhe. 😉

consumo em brechós